quarta-feira, 21 de março de 2018

Anestesistas reanimam recém-nascido por falta de pediatras em Portimão

Maternidade do hospital teve de realizar dois partos sem ter qualquer pediatra escalado nas Urgências. Situação motivou críticas de um deputado do PSD, que entretanto tornou o caso público


Dois bebés nasceram, no sábado, no hospital de Portimão, sem o apoio de qualquer pediatra. Um dos partos complicou-se e o recém-nascido teve de ser reanimado por uma equipa de anestesistas. Uma “situação imprevisível e excecional”, afirmou uma fonte oficial do Centro Hospitalar Universitário do Algarve. A mesma fonte sublinhou que os anestesistas são profissionais qualificados para estes procedimentos.

"A criança foi devidamente assistida por uma equipa de anestesistas altamente qualificada e assessorada pela Diretora do Departamento da Criança, Adolescente e Família” do hospital, assegurou. “A mãe e o bebé encontram-se bem”, garantiu.

A situação motivou críticas do deputado do PSD Cristóvão Norte, que a denunciou e tornou pública no Facebook. O deputado eleito pelo círculo do Algarve considera “grave e irresponsável” que o Centro Hospitalar Universitário do Algarve não assegure pediatras na unidade de Portimão, “de modo a garantir a segurança no funcionamento dos serviços, designadamente no bloco de partos, berçário, neonatologia e internamento de pediatria, já que os mesmos acolhem um significativo número de recém-nascidos e de crianças, mas é mais grave ainda permitir que a maternidade funcione assim.”

Segundo fonte do Centro Hospitalar Universitário do Algarve lembrou que “a carência de profissionais ao nível da especialidade é reconhecida”.

Apesar da carência de pediatras, a mesma fonte explicou que “o Conselho de Administração e a equipa do Departamento da Criança, Adolescente e Família têm trabalhado com empenho para garantir todas as escalas o que, graças à disponibilidade de toda a equipa de Pediatria, tem acontecido”.

"Nos últimos seis meses, em resultado do esforço desenvolvido, tem havido uma cobertura de 100% nas escalas de Pediatria. O ocorrido no dia 17 tratou-se de uma situação excecional e imprevisível”, garantiu.

Relativamente ao que aconteceu no sábado, a fonte sublinhou que, numa situação normal seria a equipa de pediatria a lidar com as possíveis complicações com o bebé após o parto, mas não raro os anestesistas fazem as reanimações.

A mesma fonte explicou que, “num contexto de excepção, como o que aconteceu no dia 17, em que por uma situação imprevisível não houve pediatra, as grávidas em trabalho de parto são normalmente encaminhadas para a maternidade de Faro”.

Tal não se verificou no sábado e a fonte do centro hospitalar explicou a razão: “Em alguns casos mais emergentes, designadamente em situações de parto iminente, por questões de segurança para a mulher e para o bebé, não se equaciona a transferência das utentes para a Unidade de Faro, garantindo esta unidade os recursos necessários para a realização do parto”.

"Não vamos arriscar que o bebé nasça na estrada quando há uma equipa especializada que lhe dá toda a assistência”, defendeu.

A falta de médicos na região do Algarve, sobretudo a de pediatras em Portimão, tem sido denunciada de forma repetida. Em janeiro de 2017, a urgência de Pediatria daquele hospital teve de ser assegurada por uma unidade privada durante alguns dias. Em julho, o problema repetiu-se, com a urgência de Pediatria a ter de encerrar.

Ainda na publicação que fez no Facebook, o social-democrata Cristovão Norte recorda que não é a primeira denúncia que faz sobre a falta de médicos.

Relembro ainda que, em nome do PSD, já tinha denunciado em julho passado ao Ministro da Saúde esta situação, o qual respondeu que o Algarve estava incluído nas zonas periféricas para efeito da contratação de médicos. A maternidade esteve encerrada três dias no princípio de 2017 por falta de pediatras. Os alertas têm que mudar as coisas. Não se pode fechar os olhos”, defende o deputado.

Cristóvão Norte pede ainda que o episódio de sábado seja objeto de um inquérito e deixa um recado ao Governo para que contrate os médicos necessários e, enquanto isso não acontece, impeça a realização de partos.

"O Governo tem que agir tomando as medidas adequadas, designadamente prover a unidade dos médicos necessários e, até que o consiga assegurar, não permitir a realização de partos sem que estejam cumpridas as regras mínimas de segurança. Essa exigência será traduzida em requerimento que apresentarei hoje [terça-feira]”, remata.

Poupança cega e insensata ou apenas incompetência?

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) Algarve manifestou, esta quarta-feira, “enorme preocupação” pelos recentes acontecimentos, de sábado, na maternidade do Hospital de Portimão. A estrutura sindical acusou o Centro Hospitalar Universitário do Algarve e a Administração Regional de Saúde Algarve de “falhanço total”, ao “não acautelarem de forma responsável, como lhes deve competir, as necessidades da região e dos Algarvios”.

Em comunicado enviado às redações, o SIM lamentou que se ponha em risco a vida dos recém-nascidos, no Hospital de Portimão, “pela incapacidade e pela irresponsabilidade de quem gere o hospital.”

"A ausência de pediatras no serviço de urgência e no hospital, teria levado a um desfecho fatal, não fosse a intervenção do anestesista que perante uma situação crítica procedeu à reanimação da criança, embora a sua obrigação fosse para com a mãe (anestesiada), sendo que a função de reanimar o recém-nascido, pela sua especificidade, compete ao pediatra”, refere o comunicado.

O sindicato sublinha a “inépcia gritante” do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, que recentemente apenas abriu concurso para um pediatra, quando necessita de 14.

"Serão as cativações que estão na origem desta poupança cega e insensata, ou apenas a incompetência?”, questiona o SIM, sublinhando que ambas são “lamentáveis e indesejáveis” na área da saúde.

(Fonte tvi.iol.pt)
(Foto ArtistcCaptures/IstockImages)

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