quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Morreu Cândida Ventura, 97 anos, autora da obra "O socialismo que eu vivi"

Cândida Ventura, de 97 anos, autora do livro "O socialismo que eu vivi", morreu ontem, no Hospital do Barlavento, em Portimão, informou a editora Bizâncio, que reeditou aquela obra em 2012.


Cândida Ventura nasceu a 30 de Junho de 1918, em Lourenço Marques, atual Maputo. Em 1937, matriculou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, nesse mesmo ano, ingressou no Partido Comunista Português.

Ativista das lutas académicas de 1937 a 1939, participou também nas manifestações e greves de 1941.

Trabalhou com Álvaro Cunhal (1913-2005), fez parte do Bloco Académico Antifascista (BAAF), organização clandestina criada em finais de 1935, que visava combater o Governo da ditadura de António de Oliveira Salazar (1889-1970), e foi a responsável do Socorro Vermelho Internacional, na sua Faculdade.

Fez parte da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, e foi redatora no jornal O Diabo, fundado em Junho de 1934, sob a direção de Artur Inês, "de cariz essencialmente artístico e literário", que também incluía "rubricas de política, economia, cinema", mostrando-se ainda "aberto à ciência", segundo informação do projeto Casa Comum, da Fundação Mário Soares.

Em 1943, terminada a licenciatura, Cândida Ventura "passou à clandestinidade, como funcionária do PCP e, em 1949, tornou-se membro do Comité Central" do partido, segundo a editora Bizâncio.

Após 17 anos na clandestinidade, foi presa em 1960 e saiu da prisão em liberdade condicional em 1963, por se encontrar em perigo de vida.

Em 1965, foi para Praga, capital da ex-Checoslováquia, como representante do PCP. Regressou a Portugal em 1975.

"Tendo testemunhado a Primavera de Praga e a ocupação, dedicou-se então a denunciar as condições de vida nos países de leste", segundo a mesma fonte.

Em Praga, colaborou na Revista Internacional, sob o pseudónimo de "Catarina Mendes".

Em 1976 abandonou o PCP e dedicou-se posteriormente ao ensino.

A obra "O socialismo que eu vivi. Testemunho de uma ex-dirigente do PCP", com prefácio de Artur London (1915-1986), foi publicada originalmente em 1984.

A autora de "Mulheres portuguesas na resistência", Rose Nery Nobre de Melo, traçou a "Biografia Prisional" de Cândida Ventura nessa obra.

Cândida Ventura "pautou sempre a sua vida na luta pela liberdade e pelos direitos cívicos", remata a Bizâncio.

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